Eu contei. Tenho nove amigos se mudando para o exterior dispostos a trabalhar em qualquer coisa, os chamados subempregos, e talvez aliar isso a algum estudo como desculpa para uma experiência internacional.
A pergunta “mas o que você vai fazer lá” nem combina com 2016. Essas pessoas estão se jogando no mundo sem tal preocupação e, principalmente, sem preconceito.
Não é para qualquer um. Quem vai nessas condições já aprendeu a colocar o ego de lado e priorizar a experiência de estar em outro país. Entendeu que o que nós chamamos de “bom emprego” não garante felicidade.
A lenda do “bom emprego”
Basta você pensar na sua vida profissional no Brasil. Em quais trabalhos você foi realmente feliz?
“Mas no Brasil eu trabalho na minha área, dentro de um escritório limpinho lá na Faria Lima. Eu fico duas horas no trânsito para chegar e voltar para a casa, mas é um trabalho ‘decente’.
Alguém disse (e você acreditou) que ser feliz é ser bem-sucedido naquele emprego no escritório, no qual você é promovido se fizer um MBA e pode tomar um nespresso servido pela copeira da empresa.
Desencana dessa teoria.
Quando eu morava nos Estados Unidos, vivendo o desejado ‘american dream’ eu tinha tudo isso que a sociedade ama – meu trabalhinho “decente”, na minha área de formação, pegava minha Sportage toda manhã e ia para o trabalho sem nem pegar trânsito. Mas, ainda assim, meu trabalho era um saco. Como qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, os primeiros meses foram de empolgação e cheio de perspectivas, mas o tempo foi passando e eu já não aguentava mais.
Tenho uma amiga com uma história interessante. Ela trabalhava como garçonete num restaurante em Londres quando finalmente conseguiu a cidadania européia. Assim fez o que a maioria das pessoas faz: procurou um “emprego melhor” e conseguiu. Foi trabalhar num escritório. Dois meses depois ela estava tão entediada que para conseguir gastar sua energia acumulada começou a correr todos os dias 7km depois do trabalho. Não satisfeita com a sua nova vida, voltou a trabalhar de garçonete no mesmo restaurante.
No Brasil, um país onde ainda somos muito apegados ao status social, fica difícil levar isso numa boa. Não me surpreende o textão de uma jornalista desempregada ter viralizado no Facebook dias atrás onde ela assumia lindamente que agora trabalha numa loja de doces (aqui no Brasil mesmo), quebrando seus próprios preconceitos de “eu, balconista?” com todo o currículo que tinha. Ela aceitou o emprego por necessidade, mas contou que acabou aprendendo uma série de coisas boas com a experiência. O brasileiro não está acostumado com esse tipo de atitude.
Ao contrario do inglês que conheci recentemente, de família de classe alta em Londres, estudante da Oxford – uma das melhores e mais caras universidades do mundo. Contou pra mim e para um grupo de europeus que ele trabalha no restaurante da esquina de sua casa. Às vezes servindo mesas, às vezes na cozinha. Ninguém se espantou. Só eu. Fiquei pensando que aprender a deixar o ego de lado já é um bom motivo para passar por uma experiência dessa.
Racionalizar a questão pensando que você não estudou para um trabalho desse ou que os gringos vem pra cá com bons empregos, não vai te levar a lugar algum além de um mimimi desnecessário. A recompensa vem para aqueles que se abrem às oportunidades da vida. E nem sempre elas são servidas de bandeja com um café nespresso no escritório da Faria Lima.
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