quarta-feira, 22 de junho de 2016

O tal do subemprego morando em outro país

Eu contei. Tenho nove amigos se mudando para o exterior dispostos a trabalhar em qualquer coisa, os chamados subempregos, e talvez aliar isso a algum estudo como desculpa para uma experiência internacional.
A pergunta “mas o que você vai fazer lá” nem combina com 2016. Essas pessoas estão se jogando no mundo sem tal preocupação e, principalmente, sem preconceito.
Não é para qualquer um. Quem vai nessas condições já aprendeu a colocar o ego de lado e priorizar a experiência de estar em outro país. Entendeu que o que nós chamamos de “bom emprego” não garante felicidade.
A lenda do “bom emprego”
Basta você pensar na sua vida profissional no Brasil. Em quais trabalhos você foi realmente feliz?
“Mas no Brasil eu trabalho na minha área, dentro de um escritório limpinho lá na Faria Lima. Eu fico duas horas no trânsito para chegar e voltar para a casa, mas é um trabalho ‘decente’.
Alguém disse (e você acreditou) que ser feliz é ser bem-sucedido naquele emprego no escritório, no qual você é promovido se fizer um MBA e pode tomar um nespresso servido pela copeira da empresa.
Desencana dessa teoria.
Quando eu morava nos Estados Unidos, vivendo o desejado ‘american dream’ eu tinha tudo isso que a sociedade ama – meu trabalhinho “decente”, na minha área de formação, pegava minha Sportage toda manhã e ia para o trabalho sem nem pegar trânsito. Mas, ainda assim, meu trabalho era um saco. Como qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, os primeiros meses foram de empolgação e cheio de perspectivas, mas o tempo foi passando e eu já não aguentava mais.
Tenho uma amiga com uma história interessante. Ela trabalhava como garçonete num restaurante em Londres quando finalmente conseguiu a cidadania européia. Assim fez o que a maioria das pessoas faz: procurou um “emprego melhor” e conseguiu. Foi trabalhar num escritório. Dois meses depois ela estava tão entediada que para conseguir gastar sua energia acumulada começou a correr todos os dias 7km depois do trabalho. Não satisfeita com a sua nova vida, voltou a trabalhar de garçonete no mesmo restaurante.
No Brasil, um país onde ainda somos muito apegados ao status social, fica difícil levar isso numa boa. Não me surpreende o textão de uma jornalista desempregada ter viralizado no Facebook dias atrás onde ela assumia lindamente que agora trabalha numa loja de doces (aqui no Brasil mesmo), quebrando seus próprios preconceitos de “eu, balconista?” com todo o currículo que tinha. Ela aceitou o emprego por necessidade, mas contou que acabou aprendendo uma série de coisas boas com a experiência. O brasileiro não está acostumado com esse tipo de atitude.
Ao contrario do inglês que conheci recentemente, de família de classe alta em Londres, estudante da Oxford – uma das melhores e mais caras universidades do mundo. Contou pra mim e para um grupo de europeus que ele trabalha no restaurante da esquina de sua casa. Às vezes servindo mesas, às vezes na cozinha. Ninguém se espantou. Só eu. Fiquei pensando que aprender a deixar o ego de lado já é um bom motivo para passar por uma experiência dessa.
Racionalizar a questão pensando que você não estudou para um trabalho desse ou que os gringos vem pra cá com bons empregos, não vai te levar a lugar algum além de um mimimi desnecessário. A recompensa vem para aqueles que se abrem às oportunidades da vida. E nem sempre elas são servidas de bandeja com um café nespresso no escritório da Faria Lima.
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segunda-feira, 20 de junho de 2016

O mundo nos próximos 20 anos

Edmardo Galli, iOne
Nas últimas duas décadas, a tecnologia provocou inúmeras disrupções e modificou nossa interação com pessoas e marcas. Redes sociais, vídeos sob demanda, pagamentos online, ecommerce, streaming de música e, sem contar os smartphones, que se tornaram tão indispensáveis. Neste artigo, Edmardo Galli, CEO da IgnitionOne, analisa as principais previsões de futuristas sobre os próximos 20 anos, e uma coisa é certa: as evoluções tecnológicas acontecerão cada vez mais rápidas.
Estou no mercado digital há 20 anos, desde o início da Internet comercial no Brasil. Durante esses anos, presenciei e participei ativamente da completa transformação que a internet deflagrou no mundo. As mudanças foram incríveis e em todas as áreas. Da medicina à maneira como nos relacionamos socialmente. E, sem dúvida, o mercado tecnológico foi um grande protagonista dessas mudanças. Vamos rever algumas das mudanças que a Internet proporcionou nos últimos anos:
Locadoras de vídeo ainda dominavam o mercado e não conseguiram prever o surgimento disruptivo do Netflix; há exatos 20 anos surgiam os celulares “tijolões”, do tamanho de um telefone fixo e com longas antenas – curioso observar que apenas um ano depois, em 1996, os celulares já tinham seu tamanho reduzido em 50%; Android era uma pequena startup que o Google tinha acabado de comprar, e hoje o Google já tem mais de 1 bilhão de usuários de Android ativos; ninguém tinha ouvido falar de Uber ou AirBnb, hoje empresas que valem mais de $20 bilhões cada uma; Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, Tumblr, Spotify, Skype e muitas outras ferramentas que hoje usamos intensamente em nosso dia a dia, simplesmente não existiam.
Nada mal para pouco menos de duas décadas… Todas essas evoluções tecnológicas em tão pouco tempo nos deixam imaginando: o que vem por aí nos próximos anos? Os futuristas (especialistas em fazer previsões para o futuro) tem respostas para isso. O Huffington Post reuniu 7 grandes futuristas para nos dizerem o que está por vir. Aqui vão algumas previsões que com certeza irão surpreender você
1. Dr. Michio Kaku, professor de física teórica na City University of New York:
  • Teremos a “Brain-net” – basicamente o mesmo que a internet, só que interligada pelos nossos próprios cérebros.
  • Poderemos “fazer upload” das nossas memórias, pensamentos, emoções e sentimentos em uma nuvem coletiva.
Já imaginou como será fazer download de conteúdo direto para o nosso cérebro? Se não, comece a pensar pois você fará isso muito em breve…
2. Em seguida um dos meus futuristas favoritos, Ray Kurzweil, considerado um dos 10 empreendedores mais fascinantes nos EUA e contratado pelo Google para dirigir o desenvolvimento de inteligência artificial na empresa. Suas previsões:
  • Desenvolvimento das impressoras 3D, acessíveis e presentes no dia a dia das pessoas.
  • Roupas, por exemplo, poderão ser impressas por um custo baixíssimo e as pessoas passarão a fazer o download de modelos desenhados por grandes estilistas, como fazemos hoje com e-Books, música e filmes.
  • Nossas células tronco serão matéria prima para as impressoras 3D imprimirem novos órgãos e novas partes defeituosas do nosso corpo, tratando doenças juntamente com a nanotecnologia.
  • O Teste de Turing (que mede a capacidade de uma inteligência artificial “parecer” um ser humano) será efetivo pela primeira vez. Não saberemos distinguir um computador de um ser humano.
Ou seja, poderemos produzir quase tudo o que quisermos em casa, com um custo baixíssimo e em muito menos tempo. Isso sem contar a capacidade incrível de repor órgãos que iremos ter em breve.
3. A Dra. Anne Lise Kjaer, fundadora da agência Inglesa de previsão de tendências Kjaer Global, nos diz:
  • Muitos estudos serão feitos para tratar doenças crônicas, uma vez que a OMS prevê que em 2020, quase 75% das mortes no mundo serão causadas por essas doenças.
  • Pacientes poderão ter um feedback instantâneo das suas condições por meio de apps, podendo identificar possíveis sinais de uma doença grave logo em seu início.
Imagine como nossa expectativa de vida vai aumentar…
4. A seguir, temos o Dr. James Canton, CEO da Institute for Global Futures, de São Francisco. Canton explica que:
  • Os wearables e a Inteligência Artificial vão dominar o mundo.
  • “Internet de todos e tudo” – uma mesma rede que abrange todos os humanos e objetos.
  • Inteligência Artificial em áreas e produtos como automóveis, robôs, casas e hospitais.
Estaremos cada vez mais próximos do conteúdo que buscamos, da educação, empregos e cura de doenças. O mundo será automatizado e menos suscetível a erros, pois os computadores cuidarão de quase tudo. Teremos mais tempo para nos ocupar com tarefas mais gratificantes e prazerosas.
5. Jason Silva, apresentador do programa “Brain Games”, do National Geographic Channel, afirma que em breve:
  • O mundo será sob demanda: economia, transporte, hospedagem, educação, saúde.
  • Já estamos no início dessa “revolução sob demanda”.
  • Uber e AirBnB: você pensa e seu desejo se materializa (seja um carro para se transportar ou um apartamento para passar a noite), totalmente instantâneo, conectado e exclusivo.
Esse é um conceito muito interessante, real e sem volta. Se você quiser saber mais sobre ele e a “revolução sob demanda” numa explicação rápida e simples do próprio Jason, assista a esse vídeo.
6. Já o Dr. Amy Zalman, CEO e presidente da World Future Society, aposta que:
  • Nosso conhecimento sobre nossas atitudes e comportamentos será extremamente avançado.
  • Poderemos desenvolver soluções para entendermos como confiamos, cooperamos e aprendemos. E também como lutamos e odiamos. Nossas relações interpessoais serão compreendidas de maneira profunda, sejam elas de amor ou de ódio.
Sabendo como agimos e por quê agimos, teremos o poder de criar futuros e governos melhores. Nossas decisões serão mais embasadas e saberemos compreender o próximo de uma maneira mais humana.
4. Por fim, Mark Stevenson, autor do livro “An Optimist’s Tour of The Future”, diz que a tecnologia não é o mais importante, mas sim o que fazemos com ela:
  • Precisamos de novas formas de organização.
  • Devemos seguir os exemplos das escolas que aboliram a grade escolar para focar em aprendizados que interessam a cada aluno.
  • Teremos uma sociedade mais unida e que consegue caminhar para um futuro melhor, unida.
É sempre bom lembrar que previsões são apenas previsões. Mas, por outro lado, com a velocidade que temos observado as mudanças em nossa sociedade, não será nenhuma surpresa se essas visões se concretizarem de fato. O que posso afirmar, com certeza absoluta, é que os próximos 20 anos serão ainda mais interessantes do que os últimos 20 anos. Preparem-se!

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Quando os indivíduos fogem da responsabilidade de pensar e agir

Os rebanhos bovinos sempre me interessaram como fenômeno social e psicológico. Não falo de grupos unidos por interesses ou valores comuns, o que é a coisa mais natural e saudável do mundo. O ser humano precisa da sensação de pertencimento a algo maior do que ele. Falo daqueles grupos específicos que adotam postura tribal, de “nós contra eles”, em que nada pode divergir do “pensamento” grupal.
Como só existem pensamentos individuais, na prática tais grupos possuem sempre um líder, um mestre que assume a responsabilidade de pensar pelos demais. Ayn Rand tratou bem do fenômeno em suas obras, e no filme alemão “A Onda” isso também fica muito claro. Os membros de tais rebanhos buscam o conforto da irresponsabilidade, já que ser responsável dá muito trabalho e representa um fardo.
Francisco Razzo, autor do excelente A Imaginação Totalitária, comentou em sua página do Facebook sobre esse assunto:
Hoje, uma das coisas mais difíceis — e, ousaria dizer, perigosa — é ser capaz de defender com serenidade, prudência e seriedade uma opinião, principalmente a partir de uma perspectiva dissonante da perspectiva progressista, secular e coletivista.
Por outro lado, é muito mais fácil levantar um cartaz, dar gritinhos histéricos e procurar a companhia de um rebanho conivente com os nossos mais nobres ideais.
A vantagem de agir em massa não é só não precisar pensar, o que, de fato, demanda o virtuoso equilíbrio entre excessiva energia e muita paciência. A vantagem da vida bovina é não precisar ser pessoalmente responsável pelo que se pensa, diz e faz.
Acompanhando muitos rebanhos coletivistas há anos, posso atestar: o que mais desespera seus membros é o fardo da responsabilidade, a necessidade de assumir as rédeas da própria vida e os riscos que isso representa. Trocam o pensamento individual e independente pelos slogans do rebanho, pelos símbolos, e colocam um “mestre” acima de tudo, pois assim não precisam mais argumentar. São como crianças desamparadas em busca de um papai.
Um verdadeiro mestre ensina seus pupilos a pensar por conta própria, estimula a dissidência, o confronto de ideias. Os judeus sabem bem disso, pois o Bar Mitzvá representa exatamente isso: aos 13, o jovem precisa assumir responsabilidades, criticar com embasamento e respeito as lideranças, as tradições. Por isso o povo judeu tende a ser crítico e independente. Mestres que fomentam seguidores fanáticos, preparados apenas para concordar com tudo e reproduzir seus pensamentos, não são mestres verdadeiros, mas criadores de rebanhos.
Normalmente, são as mentes monistas que acabam atraídas a esse tipo de rebanho. Não toleram a pluralidade, a dissidência, o contraditório, os “valores incomensuráveis” de que Isaiah Berlin falava. Ou tudo, ou nada. Ou aceita 100% do que prega a seita, ou está fora, é um inimigo mortal. Rebanhos não suportam um debate civilizado de ideias com foco nos argumentos. Por isso tantos ataques pessoais, xingamentos, rótulos.
E, como lembra Razzo, esse tipo de mentalidade é propícia para quem quer se eximir de responsabilidade por seus atos. Nas massas, como sabia Gustave Le Bon, o indivíduo pode se diluir no “todo” e agir como uma besta, por instinto, sem ter de assumir o peso de suas escolhas:
Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto.
E como é sedutor se deixar levar por tais sentimentos! Como temos a besta selvagem dentro de nós, à espreita, faz parte de nossa natureza querer liberá-la. Civilização é justamente domesticar tal besta. O individualismo é exatamente o esforço de colocar não só cada um como uma finalidade em si, mas também lhe cobrar responsabilidade – habilidade de resposta.
Os “coletivos” não querem saber de nada disso. Querem deixar o lado bestial suplantar o indivíduo civilizado. Precisam apenas da aprovação do rebanho. Do “mestre”. E aos demais, que ousam desafiar tal conforto, resta apenas o ódio, gerado pela insegurança de que seu mundinho pode ser, no fundo, uma ilusão, uma grande farsa. Esse outro precisa ser destruído, ou o castelo de cartas do rebanho vem abaixo, com seus pilares de areia.
Rodrigo Constantino