O empresário Abílio Diniz: o investimento na BRF é só o começo de uma série de aquisições.
Ali ele conduziu uma das mais espetaculares sequências de ascensão, queda e reconstrução do capitalismo brasileiro. No meio do caminho, brigou com a família e praticamente com todos os seus sócios, irritou e cativou muita gente com uma autoconfiança que beira o messianismo e se tornou um dos homens mais ricos do país.
Fez do Pão de Açúcar o maior varejista do Brasil, mas, para ter o fôlego financeiro necessário, vendeu o controle da empresa ao grupo francês Casino — e, com isso, plantou as sementes de sua inevitável despedida. Após dois anos de briga, Abilio e seu sócio inimigo Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, assinaram no dia 6 um acordo em que ele abriu mão de todas as suas ações ordinárias, com direito a voto, da companhia. Deixou, também, o conselho de administração.
Ambos cederam em pontos que, até outro dia, eram “inegociáveis”. Abilio aceitou não ficar com a sede, em São Paulo, que até então insistia em manter, em homenagem ao pai. Naouri livrou o brasileiro da cláusula de não concorrência, que impedia Abilio de voltar a atuar no varejo.
O empresário também ganhou um prêmio estimado em 160 milhões de reais ao trocar suas ações ordinárias por preferenciais — cujo valor soma cerca de 2,3 bilhões de reais. Na segunda-feira seguinte, dia 9 de setembro, Abilio fez questão de participar de sua última plenária, como são chamadas as reuniões semanais de resultado da varejista, um ritual que ele mesmo criou nos anos 80. “Não poderia sair à francesa”, disse Abilio a EXAME, sem nenhuma vontade de esconder a ironia.
Para Abilio, deixar o Pão de Açúcar é o preço da liberdade. Livre do contrato que o unia ao Casino, ele pode fazer o que bem entender com seu dinheiro — antes, tinha de dar satisfações a Naouri a cada negócio que pretendia fazer. Agora o empresário de varejo dará lugar ao investidor. Abilio calcula ter 5 bilhões de reais para aplicar, sobretudo na aquisição de empresas.
Para isso, mudou o perfil de atuação da Península, gestora que cuida da fortuna da família e cuja atuação era até agora extremamente conservadora. Neste ano, dobrou a equipe de dez para 20 profissionais, comandados por Eduardo Rossi, ex-executivo do banco JP Morgan. Na nova fase, Abilio terá a seu lado a gestora de recursos Tarpon — os dois buscarão novos alvos juntos.
Sua inspiração declarada são o empresário Jorge Paulo Lemann e seus sócios Marcel Telles e Beto Sicupira, fundadores da 3G Capital, que recentemente compraram a fabricante de alimentos Heinz e a rede de lanchonetes Burger King. “Temos gente e gestão e podemos replicar em menor escala o que eles fazem”, diz.
Talvez o grande mérito de Lemann tenha sido criar um modelo de gestão que pode ser replicado em empresas de diferentes setores. Abilio nunca teve experiência semelhante além do varejo. O “modelo Abilio” terá de se provar.

Nenhum comentário:
Postar um comentário